UMA HISTÓRIA DE GREMISTA (PARTE 2)

* Marco Antônio Arsego

Foi em 1981, bem no início dos anos 80, que finalmente veríamos nosso glorioso tricolor expandir-se para além das fronteiras do Mampituba. Cansado de ser coadjuvante no cenário nacional e extremamente “mordido” pelas conquistas do arqui-rival, o Grêmio finalmente investiu num time competitivo e lançou-se de corpo e alma na busca de seu primeiro título nacional.  Naquele ano, depois de um começo trôpego, em que sofreu para chegar às finais, amargando algumas derrotas e empates que deixavam o torcedor sem muita confiança, o nosso imortal viu-se diante do poderoso São Paulo na decisão do título. Aliás, o time do goleiro Valdir Peres, Serginho Chulapa, Daryo Pereira e companhia era tido como imbatível pela tendenciosa e parcial imprensa paulista. Lembro que o comentarista João Saldanha chegou a dizer que o Grêmio não era time para estar numa final de brasileirão.E outras tantas bobagens eram ditas pelos comentaristas da época. Sem falar nos vermelhinhos, que desdenhavam de nossa capacidade. Esqueciam-se de que nosso treinador era ninguém menos do que Ênio Andrade. E de que tínhamos no elenco De León,  Paulo Isidoro, Tarciso e Baltazar. Na primeira partida, no Olímpico, batemos o todo-poderoso por 2 x 1 no Olímpico, para estupefação de colorados e  paulistas. Mas isso não foi suficiente para que a imprensa paulista reconhecesse os méritos do tricolor gaúcho. Era dada como “favas contadas” uma reversão de resultado no Morumbi. Alguém falou até em goleada. Mas o que se viu naquele 3 de Maio de 1981 foi um Morumbi emudecido diante de um cinematográfico gol do artilheiro Baltazar. Tenho na minha memória cada centímetro percorrido no ar por aquela bola cabeceada para trás pelo Renato Sá  encontrando o peito do nosso centroavante, que sem deixar a bola tocar o chão, desferiu um chute mortal, de sem-pulo, no ângulo esquerdo de Valdir Peres.  E fomos campões nacionais pela primeira vez. Agora sim eu podia chegar na escola vestindo azul e zoar com aqueles colegas colorados  chatos e arrogantes. É verdade que eles ainda tinham munição para rechaçar nossa flauta, porque tinham dois títulos a mais. Mas também é verdade que começaram  a “tremer na base”. Aquele título nacional não estava nos planos dos vermelhinhos. Na cabeça deles, o Inter jamais seria suplantado depois de obter o tri-campeonato brasileiro. E era difícil mesmo. O Grêmio teria que pensar em algo maior, algum título que, de tão grande, fizesse aqueles três brasileiros do colorado parecerem insignificantes. Só então nos sentiríamos vingados e passaríamos para o lado deles todo aquele sofrimento da década de 70. Mas o que poderia ser feito nesse sentido? Para suplantá-los teríamos que chegar a um impensável “tetra” brasileiro.  E foi então que alguém teve uma idéia luminosa. “Já sei” – deve ter pensado o mentor do plano – “vamos ser mais do que campeões brasileiros, vamos ir além do Brasil… Vamos ganha a América!  Aí, quando um colorado vier se gabar de ser ’tri-brasileiro’ nós poderemos lhes dizer:  ‘e daí? Nós somos muito maiores que vocês, nós somos campeões da américa’  !!!

Era um sonho!  Mas o Grêmio passou a perseguí-lo obstinadamente. Na primeira tentativa, não deu. Fomos precocemente eliminados da Libertadores, que seria vencida naquele ano pelo Peñarol, do Uruguai.  Mas o Grêmio manteve a mesma base para o ano seguinte. E quase, por muito pouco mesmo, não chegamos ao bi-brasileiro em 1982. Estava na nossa mão, em pleno Maracanã, até os 40 minutos do segundo tempo. Vencíamos  o Flamengo por 1 a 0, resultado que nos daria o título com um simples empate em 0 x 0 em nossa casa na partida seguinte. E aí entrou em cena o craque Zico, empatando a partida. No domingo seguinte, no Olímpico, a partida acabou empatada sem gols, provocando uma prorrogação. Nós já contávamos com uma vitória do Grêmio. Já nos preparávamos para a festa. Mas o centroavante Nunes acabou com o sonho, nos deixando com o vice-campeonato. 1 x 0 na prorrogação.  O que mais doía não era perder aquele jogo, mas ter que ouvir de novo os foguetes e o buzinaço ridículo daqueles vermelhinhos de novo. Dava vontade de nem ir prá aula na Segunda-Feira. E como nos zoaram. E como sofremos naquele “dia seguinte”…

Porém, enquanto chorávamos a perda do bi-campeonato, alentava-nos o fato de estarmos novamente na disputa da Taça Libertadores em 1983. Quem sabe não seria o ano da vingança???

Ah! 1983! Que ano seria aquele!

Mas isso é assunto para a próxima parte…

(continua)

 

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